Pelos passeios de São Paulo…

Falar de calçadas é também tratar de um tema que se tornou um dos principais desafios das metrópoles contemporâneas: trata-se da mobilidade urbana.

Você sabia que em São Paulo mais de 30% da população se locomove a pé?

Traduzindo em números, cerca de 14 milhões de pessoas utilizam as calçadas de São Paulo para deslocar-se todos os dias: Os motivos são os mais variados e as distâncias também.

O fato é que a locomoção e o deslocamento acontecem sobre um tipo de espaço livre peculiar: as calçadas. Mas, o que é uma calçada? Quais são os elementos que a compõe?

O Decreto Municipal 45.904 de 2005 define os elementos que compõem uma calçada e descreve as 5 faixas que descreveremos as seguir:

– a primeira é a sarjeta, ou ainda, o local por onde escorrem as águas das chuvas, por exemplo, e que fica entre o leito carroçável e a guia. A guia é a elemento que separa a sarjeta da calçada.

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Fonte

 

– em seguida, vem a faixa de serviço que é aquele espaço de no mínimo 75 cm,  destinado à instalação de equipamentos e mobiliário urbano como vegetação, tampas de inspeção, grelhas de exaustão, de drenagem, lixeiras, postes de sinalização, iluminação pública e eletricidade, floreiras, caixas de correio, telefones públicos e mais dezenas de outras interferências colocadas por permissionárias e concessionárias públicas.

– Logo depois vem a faixa livre, ou seja, aquele lugar em que o pedestre anda livremente e que possui superfície regular, firme, contínua e antiderrapante com largura de, no mínimo, 1.20 m. Trata-se de espaço suficiente para duas pessoas andarem lado a lado. Este lugar tem inclinação transversal de até 2%, ou seja, quase imperceptível para quem está andando mas, que permite, que a água de chuva escorra para a sarjeta sem empoçar no meio do caminho. Quanto à inclinação, ela tem que se igual à da rua: nada daquilo de fazer degraus, escadinhas e várias outras soluções que a gente encontra todos os dias por aí e que nada mais são do que soluções criativas para facilitar a vida particular dos donos dos imóveis ou seja, facilitar a entrada do carro na garagem, servir de apoio para mesas de bares e restaurantes por exemplo.

– Depois temos a faixa de acesso que é a área destinada à acomodação das interferências que são resultantes da implantação, do uso e da ocupação das edificações existentes na via pública. Trata-se da colocação de jardins, floreiras, lixeiras e quaisquer outras necessidades do edifício que está em frente a ela. De qualquer forma, precisa de autorização da prefeitura e só é recomendável para calçadas com mais de 2 metros de largura.

 

– Por fim o decreto apresenta as esquinas incluindo a intervisibilidade. A esquina constitui o trecho do passeio formado pela área de confluência de 2 (duas) vias. 

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Fonte

No evento Calçada-Cilada realizado aqui no FIAM-FAAM Centro Universitário em 01 de abril de 2016, algumas sugestões para a melhoria da vida das pedestres foram apontadas.

O evento contou com a participação de alguns convidados que tratam do assunto. São eles o jornalista Marcos de Souza (MOBILIZE), a arquiteta Meli Malatesta (Cidade a pé e também da ANTP), Andrew Oliveira (Corrida Amiga), Luiz Eduardo Bretas (SPUrbanismo) e Ramiro Levy (Cidade Ativa).

Destaquei algumas mas, se você quiser conhecer as demais, acesse o vídeo do evento aqui:

  • Ampliação das calçadas, passeios e espaços de convivência;
  • Redução de quedas e acidentes relacionados à circulação de pedestres corrigindo e readequando calçadas existentes ou seja, projetando e implantando as cinco faixas ou quando não houver espaço, ao menos as três primeiras – guia e sarjeta, faixa de serviços e faixa livre de 1.20 para o deslocamento;
  • Por fim, a padronização e readequação dos passeios públicos em rotas com maior trânsito de pedestres;

Mas tem uma ação que considero fundamental: por meio de campanhas educativas promovidas pela prefeitura e também por meio das ações criadas pelo ativismo civil organizado, conscientizar os cidadãos da importância das calçadas como um dos elementos que compõem o espaço público das cidades lembrando sempre que a qualidade dos espaços destinados aos cidadãos caracteriza o nível de civilidade de um país. Se quiser saber mais, acesse a Agenda 2030 e Project for Public Spaces.

Um comentário em “Pelos passeios de São Paulo…

  1. Olá,
    Obrigada por compartilhar esse texto. Muito essa é uma discussão muito importante e o evento deve ter sido muito interessante.
    Uma pena, no entanto, que “os elementos que compõem uma calçada” não incluem rain gardens, bioswales, ou espaço para vegetação. Uma pena que a “sarjeta” seja ainda apenas o “local por onde escorrem as águas das chuvas”, as quais depois vão ser tratados em algum outro lugar obscuro, quando se poderia tirar proveito do espaço da calçada para lidar com problemas como alagamentos, por exemplo. Mobilidade é importante, mas precisa ser parte de um sistema que também gera cidades seguras e resilientes em relação ao sistemas de águas.
    Muito bom, muito obrigada por compartilhar. Vale muito a discussão e a atenção.
    PS: O link para o vídeo do evento não está no texto. Poderias compartilhá-lo, por favor?

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